Super-heróis sem limites: Quando o código de "não matar" não se aplica
Os heróis que quebram as regras: O futuro sombrio de Superman, Batman e Mulher-Maravilha
Desde a sua criação, os super-heróis têm sido símbolos de moralidade e justiça, mas por trás dessa fachada de virtude, a moralidade dos heróis mais emblemáticos da DC — Superman, Batman e Mulher-Maravilha — nem sempre foi tão fixa quanto imaginamos. Ao longo das décadas, suas histórias, origens e decisões morais mudaram, refletindo a complexidade da ética em um mundo cheio de ambiguidades. As três figuras mais conhecidas da DC Trinity nem sempre foram exemplos perfeitos de moralidade, e a evolução de seus códigos de conduta mostra o quão flexível (ou rígido) pode ser o conceito de "herói".
As Primeiras Versões de Superman, Batman e Mulher-Maravilha
Nos anos 1930, quando Jerry Siegel e Joe Shuster criaram Superman, o personagem não era o símbolo de justiça que conhecemos hoje. Sua primeira versão, no conto The Reign of the Superman (O Reinado do Superman), de 1933, apresentava um personagem maligno, sem nenhum código de ética, que usava seus poderes para se vingar de suas vítimas. Essa ideia inicial de Superman como uma figura antagônica foi logo abandonada, pois Siegel e Shuster perceberam que, para criar um herói duradouro, ele precisava ter um senso de moralidade que os leitores pudessem seguir e admirar.
O Superman de 1938, que apareceu em Action Comics #1, já demonstrava um comportamento mais alinhado com a justiça, mas, como muitos heróis da época, suas ações ainda não eram pautadas por uma moral imaculada. Nos primeiros quadrinhos, Superman agia de forma impetuosa e violenta, perseguindo criminosos, agredindo autoridades e até mesmo tomando atitudes drásticas para corrigir injustiças. Durante a Grande Depressão, esse comportamento agressivo parecia uma resposta ao sofrimento e à opressão da época.
A Moral de Superman: O Código de Ética em Transformação
Com o passar dos anos e a evolução dos tempos, a moral de Superman começou a se estabelecer de forma mais clara e consistente. Após a Segunda Guerra Mundial, os super-heróis começaram a incorporar uma visão mais patriótica e idealista, e o Superman se tornou um defensor intransigente da verdade, da justiça e do estilo de vida americano. O que antes eram medidas agressivas, como "bater nos criminosos", passaram a ser substituídas por ações que buscavam resolver conflitos de maneira mais ponderada, com uma moral que se aproximava da de um modelo de "herói perfeito".
No entanto, em algumas representações mais modernas, como em Man of Steel (2013), a questão do Superman matar se tornou controversa. A cena em que ele mata o General Zod causou alvoroço entre os fãs, com muitos argumentando que Superman nunca deveria matar. Mas isso não é uma inovação: o Superman da Era de Prata já havia matado alguns vilões, como Zod, em versões anteriores. O Superman moderno luta com o dilema de ser imortal e infalível, enquanto tenta manter uma postura ética que, muitas vezes, não permite que ele ultrapasse certos limites. A questão do assassinato, então, não é uma questão simples de "não matar", mas uma reflexão sobre os custos de sua ação e o que é necessário para manter a ordem no mundo.
Batman: O Código de "Não Matar" e Suas Contradições
Enquanto o Superman passou por transformações em sua abordagem moral, o Batman também teve sua evolução moral. Originalmente, Batman não tinha a famosa regra de "não matar". Nos primeiros quadrinhos, ele usava armas de fogo e até matou alguns vilões. No entanto, à medida que o personagem se tornou mais popular, ele começou a adotar um código moral mais rígido, estabelecendo a proibição de matar como um princípio central de sua identidade.
A regra de não matar de Batman se tornou um dos aspectos mais característicos do personagem, mas, com o tempo, também se tornou uma área cinza. Em muitas versões mais recentes, Batman é forçado a lidar com situações em que matar pode parecer a única solução. Mas sua moralidade não permite que ele ultrapasse essa linha. Como o filósofo Mark D. White explica, Batman é um consequencialista restrito, alguém que considera os resultados de suas ações, mas com restrições morais que o impedem de matar. Ele segue suas próprias regras, mas, em situações extremas, suas escolhas podem ser difíceis de justificar.
A versão mais recente de Batman, como vista em Batman v Superman (2016), mostra um vigilante mais brutal, disposto a matar se necessário. Isso gerou polêmica entre os fãs, que associam Batman a uma moralidade mais rígida e menos flexível. Mesmo no universo de The Dark Knight Return de Frank Miller, Batman é mostrado em um futuro distópico, onde suas ações são mais radicais e a moralidade do herói é questionada.
Mulher-Maravilha: Moralidade e Feminismo
A Mulher-Maravilha, por sua vez, sempre teve uma abordagem diferente de moralidade. Criada nos anos 1940, Diana não foi criada dentro dos mesmos valores do mundo humano. Ela cresceu em Themyscira, uma sociedade isolada de amazonas, com sua própria visão do que é certo e errado. Sua moralidade, por muito tempo, refletiu um conjunto de valores que não necessariamente se alinhavam com as noções tradicionais de ética ocidental.
Apesar disso, Mulher-Maravilha sempre foi uma heroína que acreditava em lutar por justiça, e, em muitos momentos, preferia não matar. No entanto, sua moralidade não é absoluta. Em momentos de extrema necessidade, como quando enfrentou Maxwell Lord em Infinite Crisis (2005), Diana se viu forçada a matar para salvar a vida de outros. Ela mataria uma pessoa se isso evitasse um mal maior. Sua abordagem moral é mais flexível, dependendo das circunstâncias — algo que a diferencia de Superman e Batman.
Em termos filosóficos, a moralidade da Mulher-Maravilha pode ser associada à deontologia do limiar, uma teoria ética que afirma que os princípios morais devem ser seguidos, a menos que a situação envolva consequências tão graves que justifiquem a violação desses princípios. Ela segue suas regras até um ponto, mas está disposta a quebrá-las se isso significar um bem maior para todos.
A Moralidade Flexível de Super-heróis Modernos
Nos tempos modernos, os super-heróis passaram a enfrentar dilemas mais complexos, refletindo questões sociais, políticas e culturais. Isso inclui suas abordagens sobre a morte e a justiça. Superman, Batman e Mulher-Maravilha não são mais figuras infalíveis de virtude. Eles estão sendo constantemente forçados a reavaliar suas crenças e a confrontar os limites de sua moralidade.
Em histórias como Watchmen (1986) de Alan Moore, a ideia de que um super-herói pode ser uma figura moralmente irrepreensível é desconstruída. Dr. Manhattan, um super-herói onisciente com imensos poderes, acaba percebendo que a moralidade é algo relativo. Ele se distanciará da humanidade, considerando que, mesmo sendo um "herói", suas ações — e a própria existência de seres com tanto poder — podem ser mais prejudiciais do que benéficas.
Conclusão: Super-heróis Podem Matar?
A moralidade dos super-heróis, como Superman, Batman e Mulher-Maravilha, nunca foi uma questão simples. Suas regras de "não matar" e suas outras crenças éticas foram alteradas ao longo do tempo, à medida que o contexto social e cultural mudou. Cada um desses heróis tem uma moralidade que reflete não apenas suas origens, mas também os dilemas modernos que enfrentam. No final, a pergunta "super-heróis podem matar?" não tem uma resposta definitiva.
A moralidade de um herói é uma construção que, muitas vezes, depende da história sendo contada, das circunstâncias e da natureza da ameaça que eles enfrentam. O que é certo em um momento pode não ser o suficiente em outro. E, ao longo do tempo, até os heróis mais moralmente intransigentes enfrentam o dilema da linha entre a justiça e a necessidade.
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Vitor Virtuoso Mendes
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