DNA fantasma: Vírus antigos escondidos em nosso DNA podem afetar saúde?

Estudos recentes sugerem que algumas sequências antigas de DNA viral em nosso genoma podem estar ligadas à suscetibilidade a transtornos psiquiátricos como esquizofrenia, transtorno bipolar e transtorno depressivo maior.

Os HERVs são os restos de infecções por retrovírus que ocorreram em nossos ancestrais. Estes vírus inserem seu material genético no DNA das células que infectam. Em alguns casos, essas infecções aconteceram em células germinativas (óvulos ou espermatozoides), o que significa que o DNA viral foi passado para as gerações seguintes, se tornando parte permanente do nosso código genético.

Inicialmente, os cientistas consideravam os HERVs como "DNA lixo", sequências sem função aparente. No entanto, pesquisas recentes revelaram que esse "DNA lixo" possui funções importantes:

• Regulação da expressão gênica: Os HERVs podem controlar a ativação ou desativação de outros genes em nosso DNA. Um exemplo é um HERV que regula a expressão de um gene crucial para a modificação das conexões entre as células cerebrais.
• Produção de RNA e proteínas: Foi demonstrado que os HERVs produzem moléculas de RNA e até mesmo proteínas em amostras de sangue e cérebro. Essas moléculas podem ter diversas funções, desde a comunicação entre células até a produção de proteínas específicas.
• Origem de genes humanos: Em alguns casos, os HERVs se integraram ao nosso genoma e se tornaram genes funcionais. Um exemplo notável são os genes sincitinas 1 e 2, derivados de HERVs, que são essenciais para o desenvolvimento da placenta.

Considerando a abundância e as funções dos HERVs, pesquisadores investigaram se a suscetibilidade genética a transtornos psiquiátricos poderia estar relacionada à expressão desses elementos virais.

Em um estudo abrangente, os cientistas analisaram a expressão de HERVs em amostras cerebrais de quase 800 pessoas. Através da comparação com dados de estudos genéticos em larga escala, identificaram variações no DNA que influenciavam a expressão de HERVs no cérebro e que também estavam associadas a diferentes transtornos psiquiátricos.

Os resultados indicaram que a expressão de quatro HERVs específicos estava ligada à suscetibilidade à esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão.

Esses estudos demonstram que os HERVs podem ter um papel mais importante no cérebro do que se imaginava anteriormente. Ainda há muito a ser desvendado sobre como esses elementos virais influenciam as células cerebrais e a suscetibilidade a transtornos psiquiátricos.

Embora seja cedo para determinar aplicações práticas das descobertas, como o desenvolvimento de novos tratamentos, essa linha de pesquisa abre portas promissoras para o futuro. Ao relacionar a expressão de HERVs no cérebro com transtornos psiquiátricos, este estudo destaca a importância dessas sequências misteriosas em nosso genoma, que foram negligenciadas por tanto tempo.

Observações Importantes:

• Mais pesquisas são necessárias para compreender completamente o impacto preciso dos HERVs nas células cerebrais e na suscetibilidade a doenças psiquiátricas.
• As descobertas sobre os HERVs representam apenas uma peça do quebra-cabeça dos transtornos psiquiátricos, que também são influenciados por diversos outros fatores genéticos e ambientais.
• Apesar das implicações promissoras, ainda não há aplicações clínicas diretas das descobertas sobre os HERVs em transtornos psiquiátricos.

A presença de DNA viral antigo em nosso genoma é um lembrete fascinante da nossa história evolutiva e do papel complexo que os vírus podem ter desempenhado na moldagem de quem somos hoje. As pesquisas sobre HERVs e seus possíveis links com transtornos psiquiátricos abrem novas perspectivas para o futuro da medicina e da saúde mental.